terça-feira, 05 maio 2015
Sobre a nova ortografia
Por Ana Salgado
Falar da ortografia da língua portuguesa é falar de um assunto demasiado controverso, dado o carácter polémico da questão. Porquê? Porque a língua, enquanto vasto património imaterial, talvez o maior, é algo que pertence a todos. Cada um de nós sente, e bem, esse património como seu e, como tal, emoções surgem à flor da pele.
Há anos que se tenta chegar a um consenso, sendo conhecidas várias tentativas de instituição de um documento normativo comum às duas variedades da língua: a portuguesa e a brasileira. Esse dito consenso é assumido com a assinatura oficial, em 1990, do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (conhecido por novo Acordo Ortográfico ou Acordo Ortográfico de 1990) pelos diferentes países de língua oficial portuguesa (Portugal, Brasil, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste).
O novo Acordo Ortográfico está em vigor, em Portugal, desde o dia 13 de maio de 2009. O Governo e os seus órgãos dependentes passaram a usar as novas regras ortográficas a 1 de janeiro de 2012. No contexto escolar, a nova ortografia foi introduzida no sistema educativo português no ano letivo de 2011-2012 e o não cumprimento das regras ortográficas tem impacto na avaliação dos alunos. Muitos órgãos de comunicação social já usam a nova grafia, bem como numerosas entidades públicas e privadas. No que diz respeito à escrita na nossa vida pessoal, é recomendável que a transição se faça dentro do período estabelecido, que no caso português foi de 6 anos a contar da data da sua entrada em vigor.
Em boa verdade, é sabido que o Acordo Ortográfico de 1990 não estabelece uma ortografia única, abrindo portas a múltiplas grafias, apresentando, como muitos outros textos legais, lacunas que deverão ser colmatadas, deixa lugar a ambiguidades, no entanto, e sobretudo dada a sua implementação no sistema educativo, recuar no preciso momento poderá ter consequências gravíssimas.
Referir ainda que Portugal cede relativamente ao Brasil não é um argumento eficaz, pois a língua portuguesa é riquíssima pela sua diversidade e as suas variedades não deixarão de existir com ou sem Acordo Ortográfico. Defendemos, por isso, uma proposta de revisão cuidada e atenta do documento legal e o estabelecimento de soluções mais orientadoras e uniformes. Este passo, sim, é de extrema necessidade e deve ser dado quanto antes.
Um outro ponto que merece a nossa reflexão é o facto de muitas das dúvidas dos falantes de expressão portuguesa não se prenderem com questões sobre a nova ortografia. As maiores dificuldades surgem por desconhecimento do funcionamento da língua e, de uma forma muito generalizada, pela falta de hábitos de leitura. Vale a pena pensar nisto.
Valores como a responsabilidade e a educação são defendidos pela equipa do PLP. É, pois, nossa intenção deixar bem claro que o nosso propósito não visa a promoção da nova ortografia, mas tão-somente acompanhar a evolução da Língua Portuguesa, neste caso concreto a sua ortografia, com o rigor e a capacidade de olhar para os fenómenos do nosso idioma de forma consciente e imparcial, defendendo um tom educativo, informativo e esclarecedor, acessível à sociedade em geral.
Comentários (1)
Vitor Madeira
Contudo, a língua avança, evolui e, é certo e sabido, torna-se necessário simplificar a escrita (ou aproximá-la à forma como também evolui o nosso falar).
Arregacemos as mangas e aprimoremos o que há para aprimorar. A língua portuguesa necessita desse nosso compromisso.