Visitar página no facebook

fazer um discurso ou entregar um discurso ?

Diz-se “entregar um discurso” ou “fazer um discurso”?

Em bom português, a expressão correta é “fazer um discurso”. A expressão “entregar um discurso” é um decalque do inglês “to deliver a speech” e o seu uso não é aconselhado.

Em todas as línguas, há determinadas associações de palavras constituídas por um verbo em relação a um nome que apresentam um grau elevado de fixidez - as colocações. Este é o caso da construção “fazer um discurso” que substitui o verbo com o mesmo significado “discursar”, ou seja, o verbo “fazer”, no presente caso, funciona como verbo-suporte ou verbo leve ou operador, uma vez que se esvazia lexicalmente e o seu significado é transferido para a expressão nominal que acompanha, formando um todo semântico.

Repare: sempre que o verbo “deliver” é acompanhado pelo nome “speech” é sinónimo de “make” (fazer), “pronounce” (pronunciar), e ao ser traduzido para português toma a forma de “fazer; pronunciar; proferir (discurso)”, não sendo sinónimo de “entregar”. Este último é um verbo que, normalmente, funciona como verbo pleno e, do ponto de vista das propriedades semânticas dos seus argumentos, o verbo "entregar" não é sequer compatível com o nome “discurso”, exceto no caso de se tratar de um discurso enquanto “texto escrito ou impresso”, nunca enquanto “mensagem oral”.

Se recorrermos a motores de pesquisa, podemos ficar surpreendidos com o número de ocorrências da expressão “entregar um discurso”, por exemplo:
“Orientações sobre como entregar um discurso eficaz (…)“
“(…) devem entregar um discurso numa reunião (…)”
“(…) e entregar um discurso de um a dois minutos que (…)”.

Apesar de o número de ocorrências ser elevado, estamos perante o uso de um anglicismo totalmente desnecessário em português e a expressão recomendada é “fazer um discurso”.

A língua portuguesa fica descaracterizada, sem identidade, se não somos prudentes no uso que fazemos da mesma. É certo que algumas importações são necessárias, mas no caso presente não há necessidade dado que, em português, temos equivalente para a expressão em questão.

A equipa do PLP - português à letra

Nota final: Agradecemos ao Professor Doutor Álvaro Iriarte Sanromán, Professor Associado do Departamento de Estudos Portugueses e Lusófonos, do Instituto de Letras e Ciências Humanas da Universidade do Minho, o parecer sobre a presente resposta.

Comentários (0)

Deixe um comentário

Está a comentar como convidado.